Arcos e Anadia outrora, dois aglomerados distintos, no sopé do Monte Crasto, a Norte e Nascente, respectivamente, abraçam, hoje, todo o perímetro daquele Monte, em casario contínuo que dissolvem praticamente, as fronteiras antigas. As várias referências a mamoas e edificações dolménicas que inúmeros escritos mencionam ao falar de Anadia, bem como das suas zonas limítrofes, denotam a eventual importância arqueológica de toda a zona do Monte Crasto, a qual é sinal de que a povoação atingiu aqui épocas pré-romanas. Porém, o estudo da arqueologia local com carácter sistemático e científico está por fazer.
A referência mais antiga que se conhece ligada à povoação de Arcos data de 943 e consta de um documento, transcrito nos Portugaliae Monumenta Historica, Diploma et Chartae. Trata-se de um documento em que o presbítero Bahalul diz que a sua Igreja de S. Cucufate (actual Igreja de São Tiago, na Moita) estava na vila de Arcos - «... est illa ecclesia pernominata in villa de arcus». A várzea de Arcos é, de novo, mencionada num documento do ano de 961 - «... senara nostra propria que abemus in ripa arcus...» - a referência à povoação de Anadia só surge em documentos datados de 1082, sem que, por isso, se possa deduzir se uma é mais antiga que a outra . Os referidos documentos dizem respeito ao diferendo entre o Mosteiro da Vacariça e o alvazir D. Sisnando, Conde de Coimbra, sobre a posse de Monsarros, aparecendo como limite Quintanela (Quintela) e illa Nadia (Anadia) - «... dividit cum Quintanela e per illa Nadia et ind per illa ecclesia Sanctini Martini cum suos passales». Porém, na carta de couto de Aguim, de 1140, aparece já a forma definitiva e actual de Anadia.
Em época mais avançada, crescem as referências a Arcos, enquanto povoado, como é o caso das chamadas Inquirições de D. Afonso II, datadas de 1220, onde aparece grafado de duas formas – Archus e Arcos – e onde se diz que a vila é regalenga, isto é, pertencia ao Rei; ou o caso do denominado Rol das “Cavalarias” do Vouga – documento que não se encontra datado no seu original, mas a que se acrescentou a data de 1328, a tinta diferente, onde se diz que Arcus fornecia ou pagava uma “cavalaria”. Viterbo elucida que o termo “cavalaria”, numa das suas acepções, pode ser tomado como “terra, casal, quinta, herdade, lugar, que antigamente tinha a obrigação de fornecer certo número de cavalos para determinada expedição militar”, o que veio a transformar-se, posteriormente, num tributo pago em dinheiro ou em bens.
A doação de três casais pertencentes a esta povoação, feita por D. Afonso Henriques, ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra - «... tribus casalibus in ipsa villa quae dicitur Anadia...». Os restantes casais foram doados por D. Sancho I ao Cavaleiro Guterres Nunes, pelos seus bons serviços prestados à Corte.
Tudo indica que a povoação tenha ficado administrativamente separada em duas partes totalmente distintas, pelo menos até à reforma político-administrativa, levada a cabo por D. Manuel I, no início do século XVI. Foi, então, neste reinado que ambas as partes se reintegraram, quando, em 21 de Agosto de 1514, Anadia recebeu Foral de Couto. Nesta altura, o concelho inicial compreendia apenas a povoação de Anadia, uma parte da paróquia de Arcos e o seu “arredor”, isto é, a parte agrária em volta da Vila.
O Foral novo dado a Anadia por D. Manuel I teve por matriz um Foral mais antigo dado pelo Cabido do Mosteiro de Santa Cruz (Coimbra) aos moradores de Anadia, em 16 de Março de 1371.
Em fins do século XVIII, Anadia era a sede de uma pequena área administrativa constituída pela própria Vila: Alféloas, Fontela e Vale de Azar, estas duas últimas já desaparecidas como povoações. No início do século XIX, mais concretamente com o decreto de 28 de Abril de 1833, esta área administrativa de Anadia, povoação da Freguesia de Arcos, passou a pertencer ao Concelho de Avelãs de Cima, sob as jurisdições da Provedoria e da Diocese de Aveiro. Ficou, então, a Vila de Anadia como sede de um “Julgado”, pertencente, também, à Comarca de Aveiro.
Entretanto, por decreto de Passos Manuel de 6 de Novembro de 1836, foi criado o Concelho de Anadia, ao qual ficaram a pertencer as Freguesias de Arcos, Moita, Mogofores, Avelãs de Caminho e Avelãs de Cima.
Em 1839, Anadia foi elevada a sede do Concelho e, a 31 de Dezembro de 1853, este Concelho foi alargado para os seus limites actuais, beneficiando da extinção do Concelho de São Lourenço do Bairro. Como Freguesia, a cidade de Anadia está na sua própria dependência, dado que, há já cinco séculos, Arcos é parte integrante desta cidade.
Mogofores é praticamente uma rua: a Rua Nossa Senhora Auxiliadora e o resto da área está maioritariamente ocupada por zona rural interior.
D. Sancho II doou no seu reinado, a povoação de Mogofores a um casal: João Dias e mulher.
Foi vila e breve concelho no final da Idade Média e foi um curato da apresentação do prior de S. Paio de Arcos. Na posse da mitra e do cabido conimbricense, embora em separação, aí se formaram prazos familiares, por aforamento desses senhorios.
Recebeu foral de D. Manuel em 12 de Novembro de 1514. Constituiu, até ao início do século XIX, o couto de Mogofores. Em 1801 tinha 240 habitantes. Actualmente tem menos de 1000.
Mogofores é topónimo de origem árabe. Curiosa é a lenda que refere que todos os anos, como por encanto, desaparecia uma pessoa da localidade e nunca mais era encontrada. Ora nesses velhos tempos existia em Mogofores uma bruxa que dava pelo nome de Moga. O povo começou a atribuir-lhe o anual desaparecimento de pessoas e, exasperado, grita:
"Moga fora! Moga fora! Moga fora!" o que daria Mogofores.
Se a Moga foi desterrada ou não, a lenda não diz, mas os habitantes fizeram a promessa de ir em peregrinação anual à Senhora do Beco e o desaparecimento deixou de se verificar. Ainda hoje o povo de Mogofores se mantém fiel ao voto dos seus antepassados.
Mogofores orgulha-se de D. José Xavier Cerveira e Sousa, falecido em 1862, sacerdote doutor em teologia e lente da Universidade de Coimbra, que foi pároco de algumas freguesias da Bairrada, nomeadamente em Aguada de Cima, concelho de Águeda, e mais tarde bispo de Funchal, Beja e Viseu. O seu túmulo está em Mogofores na Capela dos Pintos junto ao altar da Sra. da Piedade, na Igreja Paroquial.
Figura ilustre da localidade foi também o Visconde de Seabra, primeiro visconde deste título, António Luís de Seabra, brilhante jurisconsulto, nascido em 2 de Dezembro de 1798 a bordo da nau Santa Cruz. Foi Par do reino, ministro de Estado, juiz conselheiro do Supremo Tribunal da Justiça, deputado e reitor da Universidade de Coimbra. Simpatizante dos ideais liberais, defendeu-os muitas vezes de armas na mão. Quando se deu a modificação política de 1823 pediu a demissão de juiz de fora em Alfândega da Fé e retirou-se para a casa paterna em Vila Flor, dedicando-se a trabalhos literários, tendo traduzido as Sátiras e Epístolas de Horácio. Em 1825 foi nomeado juiz de fora para Montemor-o-Velho, e no ano seguinte escreveu uma ode dedicada à infanta regente D. Isabel Maria.
Quando faleceu na sua quinta de Santa Luzia, em Mogofores, em 29 de Fevereiro de 1895, estava aposentado como juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça. O título de visconde foi-lhe concedido pelo rei D. Luís em 25 de Abril de 1865. Em 1952, em Mogofores, foi-lhe prestada grandiosa homenagem e erigido um busto em frente ao Palácio da Justiça e dando à praça o seu nome.
Foram igualmente figuras ilustres da localidade o Barão de Mogofores e o Barão do Cruzeiro. O Barão de Mogofores, Manuel Ferreira de Seabra Mora e Silva, primo do Visconde de Seabra, foi o primeiro e único barão deste título. Nasceu em 17 de Novembro de 1786 e faleceu em 21 de Outubro de 1872. Foi Juiz do Supremo Tribunal de Justiça e deputado na legislatura de 1840-1841. Escritor e poeta — publicou várias composições poéticas dedicadas a várias personalidades e poesias dispersas sob o pseudónimo de Elmano Conimbricense. O título foi-lhe concedido em 20 de Maio de 1869 por D. Luís.
Francisco Luís Ferreira Tavares foi o primeiro barão do Cruzeiro. Nasceu em Albergaria-a-Velha em 19 de Fevereiro de 1852 e morreu em Mogofores em 13 de Dezembro de 1912. Era abastado proprietário no concelho de Anadia. O título foi-lhe concedido por D. Luís em 28 de Outubro de 1875. O brasão foi-lhe concedido por alvará de 15 de Junho de 1876. Era bisavô do cançonetista e compositor José Cid.
De Mogofores foi também o jornalista e político Albano Coutinho, que foi governador civil de Aveiro, e um dos obreiros entusiastas da estância termal da Curia.
Ambas as Freguesias foram extintas em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada à freguesia de Arcos, para formar uma nova freguesia denominada União das Freguesias de Arcos e Mogofores com sede em Arcos.
Referências
Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 2 de fevereiro de 2013.
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