MOGOFORES
Mogofores é topónimo de origem árabe. Curiosa é a lenda que refere que todos os anos, como por encanto, desaparecia uma pessoa da localidade e nunca mais era encontrada. Ora nesses velhos tempos existia em Mogofores uma bruxa que dava pelo nome de Moga. O povo começou a atribuir-lhe o anual desaparecimento de pessoas e, exasperado, grita:
"Moga fora! Moga fora! Moga fora!" o que daria Mogofores.
ARCOS
Os filólogos, de Joaquim da Silveira a Rodrigues Lapa, não têm dúvidas de que Nadia representa a palavra latina nativa (aqua ou fons), tomada substantivamente, significando “nascente, fonte natural espontânea”, eventualmente com referência aos abundantes mananciais de água que brotavam à entrada Norte da vila, perto do actual Quartel dos Bombeiros Voluntários e iam irrigar uma boa parte da várzea de Arcos.
Existem várias versões acerca da origem do topónimo de Anadia. Segundo a tradição popular ou lenda, o topónimo “Anadia” proviria do antropónimo de Ana Dias. De facto consta dum manuscrito inédito, datado de 1760, publicado por D. Fernando de Tavares e Távora, da casa de Sepins (Cantanhede) que a localidade em que hoje assenta a vila de Anadia foi, em velhos tempos, um casal de Ana Dias, mulher a quem seus pais deram em dote uma tapada de vinha. O vinho ali produzido, de excelente qualidade, era por ela vendido junto da estrada de Coimbra, o que lhe granjeara tal fama que o seu nome ficaria ligado à terra para sempre. Deste casal teria nascido a primeira povoação que se foi desenvolvendo.
Porém, alguns autores, nomeadamente Pinho Leal, defendem sem qualquer suporte histórico que o nome teria origem em “Anadaria”, que era o termo correspondente à jurisdição de um capitão de besteiros. Ao capitão chamava-se Anadel, do termo árabe an-nadir. Esta seria a designação árabe que, nessa língua, parece conduzir a “Anadia”. No entanto, a povoação aparece citada nos documentos antigos com a forma illa Nadia em que illa, artigo, daria lugar a uma vogal, e daí “Anadia”.
Ao que tudo indica, seria esta a designação dos Romanos ou mesmo Pré-Romanos. Aliás, os filólogos Joaquim da Silveira e Rodrigues Lapa são da opinião de que “Anadia” deriva de Aqua Nativa, nome que os Romanos deram à nascente que brota na base do Monte Crasto, à entrada Sul de Arcos. A verdade é que Anadia surge como illa Nadia em 1082, nas confrontações de Monsarros, como já foi referido. Assim, não é difícil encontrar a origem do topónimo Nadia: Aqua Nativa, deixou cair Aqua; Nativa, abrandou o tem d, dando Nadiva e, depois Nadia, a que foi acrescentado o artigo a (illa), donde A Nadia ou Anadia.
A origem toponímica de Arcos como grande parte das designações antigas, é duvidosa, no entanto, tal como Anadia, deverá o seu nome a nascentes de água (arcas), abundantes em todo o sopé do Monte Crasto. Há no entanto quem sustente que a origem toponímica de Arcos se relaciona com qualquer objecto de forma curva, como arco, sendo nesta possibilidade que se baseia o símbolo heráldico da freguesia com que esta ilustra documentos e outras representações gráficas.
De tudo isto se depreende que “Arcos de Anadia” seria o nome aplicado a uma pequena povoação, antes da fundação da Nacionalidade, a qual se situaria tanto a norte como a sul da Fonte de Azenha e, com o decorrer dos tempos e das gerações, o povo viria a chamar Arcos à parte Norte e Anadia à parte Sul.
A Freguesia de Arcos é, sem dúvida, rica em topónimos cheios de história, pelo que não se pode deixar de fazer alusão a essas mesmas origens dos nomes das povoações que a compõem.
Três-Arcos.
A povoação de Três-Arcos, situada entre Arcos e Famalicão, está hoje praticamente unida a qualquer destes dois lugares e passará despercebida como lugar diferenciado, a quem não conheça bem o local. Há quem diga que, com toda a probabilidade, deve o seu nome à ponte construída sobre o Rio da Serra – onde em tempos existiu um moinho ou azenha – composta de três arcos, o que nada teria a ver com a toponímia de Arcos, cuja origem é certamente diferente. Simplesmente, existe um senão nesta explicação: Três-Arcos, enquanto nome de povoação, vem já referido no Foral dado por D. Manuel I ao Concelho de Avelãs de Cima, em 1514, e, seguramente, por essa altura, não existia aquela ponte nem nenhuma outra que tivesse três arcos. Era mais provável até que não existisse qualquer passagem sobre o rio e esta se fizesse a vau, quando as águas do próprio rio o permitiam. Em Três-Arcos, tinha o rei quatro casais que lhe pagavam os foros, como na carta de Foral era referido. É, pois, muito mais provável que, à semelhança de Arcos, Três-Arcos retire o seu étimo do Latim arcu-. No Cadastro da População do Reino, de 1527, a aldeia de Três-Arcos surge grafada como Tres Arquos, com apenas quatro moradores, o que empresta maior verosimilhança à origem etimológica sugerida.
Alféloas
O étimo Alféloas é originado no árabe al-halãuã, que significa “doce açucarado”. Aparece grafado, no Foral dado a Avelãs de Cima, em 1514, por D. Manuel I, como Alfellas e, no Foral de Mogofores, dado em Évora, em 8 de Maio de 1520, como Alfelloaz.
Bem próximo de Alféloas, existia e ainda existe uma “Póvoa”, com apenas um morador, outrora conhecida por “Póvoa” do Roupeiro ou de Ruy “Pereiro”, integrante do antigo Concelho de Avelãs de Cima que é, hoje, conhecida por Quinta da Graciosa.
Famalicão
Famalicão é, igualmente, povoação antiga. Na carta de Foral dada a Avelãs de Cima, em 1514, aparece a grafia Famelicam, referindo-se a esta povoação e também Familicam, no Cadastro de 1527. Neste Cadastro, diz-se que o “lugar” tinha, naquela data, 23 moradores, o que o tornava bem mais populoso do lugar de Arcos apenas com 12. É terra de gente ilustre, destacando-se, pelo relevo que assumiu na vida cultural portuguesa, a escritora, musicista e compositora, a 2.ª Condessa de Proença-a-Velha, Dona Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon.
Malaposta
Antes de 1859, a Malaposta, enquanto lugar povoado, praticamente não existia. A zona era conhecida como Ponte da Pedra, designação que resultava da ponte que passava sobre o Rio da Serra, para dar continuidade à chamada “estrada real”.
Exactamente em 1859, era então Primeiro-Ministro Fontes Pereira de Melo, iniciaram-se as carreiras de “mala-postas”, entre Lisboa e Porto, que aliás haviam de ter uma vida efémera porque, em 7 de Junho de 1864, ficou concluída a via férrea Lisboa-Porto. As “mala-postas” tinham, ao longo do seu percurso, pontos de apoio em casas, de um modo geral propositadamente construídas para o efeito, onde pernoitavam os encarregados das diligências, os respectivos animais e, em alguns desses pontos, os próprios passageiros. Um dos pontos de paragem obrigatória, para restauração e pernoita, veio a situar-se no sítio da Ponte de Pedra e aí cresceu o edifício que, ainda hoje, se vê servindo de restaurante. Com o andar do tempo, em redor da “Malaposta” foram sendo erguidos alguns outros edifícios, moradias e casas de comércio. Pela boa situação à beira da estrada real, por um lado, e pelas escassas centenas de metros que o separavam da estação de caminho-de-ferro de Mogofores, por outro, o sítio não tardou a transformar-se em povoação.
Canha
O lugar de Canha aparece-nos, hoje, praticamente ligado a Malaposta. Mas, ainda há três ou quatro décadas, o “lugar” se resumia a um moinho de cereais que existia mais perto do Rio Cértima. Todavia, as “vemdas de canhas” são mencionadas no Cadastro da População do Reino, de 1527, com três moradores, isto é, três casas uma ou mais das quais seriam, por certo, locandas à margem da estrada que ali passava. Daí a forma como o lugar é designado no referido Cadastro: vendas. A palavra canha, usada no singular significa(va) normalmente “a mão esquerda” (canho é o canhoto); mas, usada no plural, canhas são as “migas que, depois de feitas, se comem com leite”. Esta última acepção parece conciliar-se perfeitamente com a existência de vendas… de canhas.
Há também uma outra acepção para a palavra canha: cachaça. Será que, em vez de “migas com leite”, as vendas forneciam aguardente (não, ainda, a de cana, na época), mas álcool proveniente da destilação do melaço (rum), aos viandantes?
Vendas da Pedreira
Este lugar, no exacto local onde se situa, também não é antigo, sendo o resultado, muito provavelmente, da rectificação do traçado da estrada real, que passaria a umas escassas centenas de metros a Nascente. Lugar de certa importância, nesta zona, era o de Vale do Azar, que decresceu de importância pela razão contrária à que fez crescer o de Vendas: a estrada real deixou de ser para ele ponto obrigatório de passagem. O lugar de Vendas da Pedreira retira o seu nome das locandas que ali se estabeleceram para os viandantes e da proximidade – uma centena de metros a Norte – do lugar ou “póvoa” da Pedreira, que nunca teve importância demográfica significativa, pois surge, no Cadastro da População do Reino, de 1527, com apenas um morador.
Pedreira
Pedreira nunca terá sido povoação importante no sentido de conjunto apreciável de habitações. O documento de 1527, a que temos feito referência, assinala a sua existência, chamando-a de “póvoa” e atribuindo-lhe, apenas, um morador, isto é, uma única casa, provavelmente, sempre intimamente ligada à agricultura que ali, dada a existência do Vale do Cértima, devia ser fácil. A “póvoa” da Pedreira aparece, mais tarde, intimamente ligada à história da Capela de Nossa Senhora da Penha de França, no Monte Crasto. Na actualidade, o local é designado como Quinta da Pedreira. Se a pedra é ou foi ali abundante, não o evidencia o olhar superficial do lugar. A relativa escassez deste material, suficientemente consistente para propiciar
construções duradoiras, parece ter sido uma preocupação de outros tempos, pelo que a eventual existência, ali, de algo que se assemelhasse a pedra poderia ter tido a relevância suficiente para dar aos locais referidos topónimos tão ligados a ele.
Vale de Azar
São várias as conjecturas sobre a origem toponímica do lugar de Vale de Azar. Na acepção mais comum, Azar é “sorte adversa, infortúnio, sorte ou acaso” e, também, “luta, batalha”. Daí que alguns afirmem que ali se terá travado, em tempos imemoriais que a história não regista, uma luta armada que para sempre deu nome de Azar ao local onde ocorreu. Trata-se, apenas, de uma
conjectura, embora verosímil. Azar é também um nome provavelmente de origem árabe, de uma planta ranunculácea, que produz flores brancas muito aromáticas. Por isso, outros sugerem que a eventual abundância daquelas plantas tenham dado origem ao topónimo. O lugar de Vale de Azar também nunca foi muito povoado. Terá tido, no auge da sua importância, três a quatro casas de habitação, ligadas à exploração agronómica, e uma capela, cujo orago era São Tomé, de que, ainda hoje, existem os vestígios perfeitamente visíveis das quatro paredes e pequeno adro que a compunham.
Região da Bairrada
Não são unânimes as opiniões dos etimologistas sobre a origem do nome da Bairrada. Também não são muito antigas as referências escritas que se lhe conhecem. Uma das mais antigas remonta a 1708, quando o Padre Carvalho da Costa publicou a sua Corografia Portuguesa, onde utilizou o topónimo “Bairrada” para designar esta região.
São duas as versões existentes relativamente à etimologia desta palavra. Uma foi liderada pelo Professor Amorim Girão que sustentou que “Bairrada” significava “conjunto de bairros”, tomando o termo “bairro” (antigamente “barrio”) na acepção que lhe dá a linguagem popular, isto é, de certos terrenos em que o barro predomina. Da abundância desses terrenos na região terá nascido o nome “Bairrada”.
Por outro lado, a segunda versão defende que “Bairro” nada tem a ver com barro, significando mesmo “bairro”, no sentido urbanístico do termo.
A única opinião unânime relativamente à região da Bairrada é a de que esta participa das indescritíveis belezas de Portugal.